2010-02-05

Postais: O Cerco – Centenário da Criação do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (04)

3581 

Montra de estabelecimento comercial em protesto contra a actuação do Dr. Ricardo Jorge.

 

3584 

Dr. Ferrand

 

colonias de bacilos da peste 

Colónias da bacilos da peste

a) Fórmas de invólução do bacillo da peste, obtidas no agar salgado em 48 horas.

b) Preparação microscopia do succo d’um bubão retromaxillar

c) Colónia do bacillo da peste em gelatina. Augmentada 30 vezes.

d) Colónia do bacillo da peste em gelatina. Augmentada 30 vezes.

 

petechias no membro superior tronco e membro inferior

Petechias no membro superior, tronco e membro inferior

a) Ecchymose semelhante á d’uma vergastada

b) Zona de hyperemia cutanea com infiltração

O Cerco

Há precisamente cem anos a cidade do Porto, ao ver desencadeado o último surto europeu de Peste Bubónica, a partir de um caso na Rua de Fonte Aurina, viu-se arrastado para uma das suas maiores crises de identidade. Desse momento difícil, causado mais pelo isolamento criado pelo cordão sanitário e pela humilhação da sua autonomia e direitos que pela virulência da epidemia, destacar-se-ia a notável intervenção do Dr. Ricardo Jorge (1858-1939), chefe do Laboratório de Higiene Municipal, que identificou a doença com espantosa antevisão, e a consequente criação do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge.

Quando Ricardo Jorge nega a versão, avançada com a primeira morte, de se tratar de uma variante sazonal epidemia de tifo de Verão, identificando a peste bubónica, acorrem ao Porto especialistas em parasitologia e microbiologia de todo o mundo. Trabalhando com Ricardo Jorge, o médico Câmara Pestana é contagiado e morre. A Junta Médica resolve então criar um cordão sanitário, em volta do Porto, e inicia-se um enorme esforço de desinfecção, nomeadamente nas “ilhas” onde aparentemente, os casos se afirmam. Para tornar o caso mais polémico poucos médicos concordam com a identificação da peste e desenvolviam-se reuniões de protesto e entrevistas na imprensa que criticavam o veredicto de Ricardo Jorge.

Estas são imagens do fotógrafo portuense Aurélio da Paz dos Reis, conhecido militante republicano, especialista em reportagens de rua, informais e autênticas, testemunho valioso dos finais do século XIX. As imagens médicas são da autoria do Prof. Plácido da Costa e Agnelo Pereira. Tornam claro o esforço e responsabilidade da equipe internacional liderada por Ricardo Jorge, a desolação causada pelas intervenções de desinfecção nas “ilhas” e a indignação da sociedade comercial, reunida na Bolsa, para reclamar do Governo contra as medidas de isolamento que o cordão sanitário significava e que causavam a estagnação e o retrocesso da vida económica da cidade.

M. do Carmo Serén

Série: Postais. O Cerco. Centro Português de Fotografia.

Porto. Portugal. peste epidemia. doença. fotografias. história.

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